A transição da caça e coleta para a agricultura, como destacado por Yuval Noah Harari na obra Sapiens – Uma Breve História da Humanidade, representou um momento crucial na evolução humana. Com o abandono do estilo de vida nômade, as sociedades embarcaram em uma jornada em direção ao desenvolvimento de comunidades agrícolas e assentamentos permanentes. Esse ponto de viragem, conhecido como Revolução Agrícola, não apenas transformou a maneira como produzíamos alimentos, mas também teve impacto profundo em nossa organização social. A busca por controle e previsibilidade no fornecimento de alimentos e recursos impulsionou a necessidade de novos modelos de negócios, desencadeando uma revolução econômica cujos efeitos ainda são perceptíveis nos dias de hoje.
Na indústria automotiva, Henry Ford revolucionou ao introduzir o conceito de linha de montagem para a fabricação em massa do Modelo T, tornando os automóveis acessíveis à classe média e transformando a indústria e a mobilidade como um todo. No Brasil, um exemplo notável de inovação de modelo de negócios foi o lançamento dos carros flex fuel. Essa tecnologia permitiu que os veículos fossem abastecidos com etanol, gasolina ou qualquer combinação dos dois, dependendo da disponibilidade e dos preços dos combustíveis.
No cenário atual de descarbonização, adoção de novas tecnologias e a crescente competição na direção da eletrificação, é fundamental entender como os novos modelos de negócios na indústria da mobilidade no Brasil estão evoluindo.
No contexto global de busca pela descarbonização, o Brasil se destaca como um participante-chave na indústria automotiva, adotando uma estratégia inovadora e economicamente viável. Um componente central dessa estratégia é o uso do etanol, uma fonte de energia limpa e amplamente disponível no mercado brasileiro. A abordagem de eletrificação que prioriza o uso do etanol se revela altamente eficaz na redução das emissões de CO₂, comparável e, em alguns casos, até superior à utilização de carros elétricos.
Essa abordagem coloca o Brasil na vanguarda da sustentabilidade no setor automotivo, aproveitando a capacidade de produção de etanol a partir de fontes renováveis, como a cana-de-açúcar. Isso não apenas contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa, mas também aproveita uma infraestrutura já existente de abastecimento de etanol, tornando a transição para veículos mais limpos e eficientes uma opção acessível e prática para os consumidores brasileiros.
O cenário automotivo brasileiro está passando por mudanças significativas devido à crescente presença de novos concorrentes no mercado de veículos elétricos e híbridos. Isso tem impulsionado investimentos no setor, aumentando a competividade e o compromisso com a transição energética. Os fabricantes estabelecidos no Brasil estão ajustando suas estratégias para permanecerem competitivos, focando na qualidade, especialmente porque os carros elétricos ainda estão isentos de impostos de importação.
Dessa forma, é intensificada a competição, exigindo adaptação e inovação por parte do setor, com a qualidade desempenhando um papel crucial na capacidade das empresas de enfrentar um mercado volátil e incerto. Nesse contexto desafiador, a inovação se torna uma peça-chave para a sobrevivência e o sucesso das organizações, e a qualidade, intrinsecamente ligada à capacidade das empresas de experimentar e evoluir, torna-se fundamental para o progresso sustentável da indústria automotiva brasileira.
As organizações automotivas devem estar dispostas a se reinventar, explorar novas oportunidades e colaborar de maneira estratégica para se manterem competitivas em um ambiente dinâmico e em constante evolução. Contudo, surge uma questão fundamental: qual é o papel da qualidade automotiva diante desses novos modelos de negócio? Esta é a indagação que buscaremos responder na 9ª. edição do Fórum IQA da Qualidade Automotiva, agendado para 17 de outubro, em São Paulo (SP).
Participe desse encontro, onde vamos refletir juntos sobre como as macrotendências, tais como descarbonização, eletrificação, transformação digital e sustentabilidade, têm impactado significativamente os negócios no setor automotivo.
*Claudio Moyses é diretor-presidente do IQA – Instituto da Qualidade Automotiva
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