Lideranças da indústria automotiva estão prognosticando a recuperação para 2025. A última crise levou exatamente isto: 10 longos anos! Talvez alguns setores da economia brasileira consigam reagir antes disso, mas o PIB precisa melhorar. Alguns alegam que a crise é mundial, mas o mundo venderá 90 milhões de veículos em 2016 e o Brasil ficará com 2 milhões ante quase 4 milhões de unidades.
Neste cenário de incertezas, é certo que não entrarão na jogada as empresas que não conseguirem implantar as novas normas da qualidade até setembro de 2018. Com estruturas e recursos reduzidos em função de seus próprios negócios, que também perderam volumes, as empresas já precisam se preparar para aplicar a IATF 16949:2016 em conjunto com a ISO 9001:2015.
Responsável por definir os requisitos dos sistemas de qualidade no setor automotivo, a IATF 16949:2016 deve ser aplicada pelas organizações até 14 de setembro de 2018, quando os certificados baseados na ISO 9001:2008 perderão a validade.
Implantar as normas pode ser mais complexo do que se imagina porque não requer somente conhecimento. Muitas vezes é preciso mudar os valores das pessoas e desenvolver um amadurecimento para que se possa agir com propriedade. A ISO 9001:2015, por exemplo, apresenta evolução no conceito de sistema, o que exige um grande salto da sociedade para realizar a mudança dos parâmetros.
As mudanças na ISO 9001:2015 são muito qualitativas e envolvem, por exemplo, a alta direção de uma empresa. Anteriormente o representante da administração podia responder pelo sistema de qualidade, mas agora a alta direção precisará assumir este posto. É um avanço porque esse acompanhamento próximo permitirá às lideranças conhecerem mais profundamente os indicadores para a melhoria da gestão.
Outro ponto importante nesta norma, também compartilhado pela IATF 16949:2016, é a exigência da análise de riscos pelas empresas. Agora, as organizações precisam analisar todos os riscos, inclusive os inerentes aos processos de produção. Devem pensar com antecedência em todas as possibilidades de risco e trabalhar preventivamente ao invés de deixar o problema acontecer para fazer corretivos.
As organizações devem analisar as novas normas e implementar as mudanças necessárias aos sistemas de gestão. Antes de iniciarem as auditorias externas, as empresas precisam realizar as auditorias internas de maneira bem detalhada e aplicar planos de ações eficazes para o caso de não conformidades encontradas.
Outra novidade é a forma de interagir com as duas normas. Antes era possível olhar o primeiro ponto e aplicá-lo, depois o segundo e assim por diante. Agora é preciso entender a norma como um todo para poder aplicá-la porque um mesmo tema pode ser encontrado em vários capítulos. É um complicador para a adaptação das pessoas.
Paralelamente à mobilização das empresas, os organismos de certificação também devem capacitar os seus auditores porque as organizações já poderão fazer a migração a partir de fevereiro. No mais tardar, as empresas deverão realizar as auditorias em maio de 2018 porque precisarão de tempo para correções caso ocorram não conformidades.
A auditoria de transição já pode ser conduzida a partir de fevereiro. A última possibilidade de data deverá ser maio de 2018 devido à possibilidade de ser necessário atuar em cima de não conformidades encontradas. Os prazos para implantação das normas são curtos, o que demandará cooperação entre as organizações e o organismo de certificação para melhor planejamento da auditoria.
Fora a implantação dos dois sistemas de qualidade, há na indústria automotiva interações com outros manuais como as publicações VDA, que devem ser aplicadas por todas as empresas de origem alemã. Existem ainda as certificações compulsórias de produtos, como pneus e componentes de motos, que também precisam ser implementadas em prazos determinados. É desafio atrás de desafio!
Mário Guitti é superintendente do IQA – Instituto da Qualidade Automotiva